Conheça empresário baiano que faz produtos da agricultura familiar chegar aos supermercados
Sabores regionais como umbu, licuri e maracujá da caatinga estão chegando em forma de produtos nas gôndolas dos supermercados da Bahia. Por trás dessa conquista, existem muitos responsáveis e certamente um deles é Alécio Mascarenhas, líder da Compre Coop, que impulsiona cooperativas da agricultura familiar. Há 23 anos atuando no segmento, ele foi selecionado, no ano passado, para atuar junto à ONU em um projeto de capacitações para tornar as cooperativas ainda mais competitivas.
Natural de Baixa Grande, cidade de 18 mil habitantes no interior do estado, a 260 Km de Salvador, Alécio é mestre em Gestão de Empresas pela Universidad de Mondragón, na Espanha, e começou a trajetória na área ao receber um convite para ser gerente de uma cooperativa de crédito rural. Foi lá que ele passou a entender as necessidades de homens e mulheres do campo. O contato abriu as portas para uma jornada voltada ao cooperativismo.
Hoje, ele atua como representante e distribuidor dos produtos de cooperativas em 150 pontos de venda do estado, mas não foi simples o processo de fazer os itens dos produtores rurais da Bahia chegarem às grandes redes de supermercados.
“Apesar de os produtos terem evoluído muito, pouca gente conhecia. Então, eu comecei um projeto de marketing digital chamado ‘Compre de uma cooperativa’, para estimular esse consumo. As pessoas então passaram a conhecer, mas não encontravam onde comprar. Em 2022, criei um hub para conectar os produtos com o mercado, através da representação e distribuição para o varejo”, lembra.
O trabalho começou por Feira de Santana, fazendo um processo de convencimento dos grandes mercados. A proposta foi disponibilizar gôndolas exclusivas, com identidade visual que comunicasse rapidamente que aqueles produtos ali dispostos são feitos por gente de nossa terra e que o consumo daqueles itens leva desenvolvimento a essas famílias.
“O primeiro paradigma que precisamos quebrar é que o produto da agricultura familiar é de baixa qualidade. Não é! Os produtos evoluíram, se alinharam ao mercado e fazem sucesso nas feiras nacionais e internacionais. Temos cooperativas, como a Coopercuc, que têm penetração nacional, inclusive com produtos no Carrefour em São Paulo, Brasília. A gente faz um esforço mostrando que comercializar os produtos da agricultura familiar é uma ação de ESG completa, que leva responsabilidade socioambiental para a empresa e contribui para o desenvolvimento sustentável”, defende.
Segundo o empresário, os serviços da Compre Coop trazem uma solução e um poder de negociação que as entidades de agricultura familiar individualmente não teriam, inclusive porque a entrada em grandes redes exige taxas de acordos comerciais diversos.
“O grande desafio é vencer a dupla invisibilidade dos produtos da agricultura familiar, que são a invisibilidade de marca e invisibilidade de produto. As pessoas não conhecem marcas como Aratinga, Monte Sabores, não são marcas como as grandes que estão nas mídias todos os dias, e a invisibilidade do produto vem do desconhecimento real de produtos inovadores como a balinha de licuri que é maravilhosa, mas desconhecida. Muita gente nem sabe o que é licuri”, observa.
Escolhendo o que chega nos supermercados
Ainda segundo Alécio, um aspecto crucial do trabalho de distribuição é a seleção criteriosa dos produtos que chegam aos supermercados para os consumidores. A Compre Coop faz uma curadoria para que os produtos atendam às exigências de qualidade, apresentação, embalagem e requisitos legais do mercado e dos governos.
As mercadorias são derivadas do mel, castanhas de caju, mandioca, licuri, umbu, maracujá e outros frutos típicos da caatinga, além de derivados de leite e milho, como cuscuz. O catálogo tem mais de 190 produtos e inclui, ainda, café, açúcar, rapadura, carne de bode e carneiro, cacau e chocolates e outros produtos bastante nordestinos que estão indo para os mercados em formato de geleias, doces, biscoitos e chocolates.
De fato, o Brasil é um grande exportador de commodities, mas 70% dos alimentos que chegam às casas brasileiras vêm da agricultura familiar, segundo dados do IBGE.
“Comprar é um ato político, porque você determina para onde e para quem vai o dinheiro. Dito isto, é óbvio que é melhor comprar de produtores baianos porque o dinheiro fica dentro do próprio estado e vai gerar desenvolvimento aqui, vai ajudar a cooperativa a expandir a sua atuação, comprar mais produtos dos agricultores associados, empregar mais pessoas, aumentar a produção reduzindo o custo unitário dos produtos e tudo isso é um ciclo infindável de desenvolvimento sustentável”, conclui o empresário.
Fonte: Alô Alô Bahia